Dandara:
a face feminina dos Palmares
Durante os quase quatro séculos de
escravidão negra no Brasil, a luta do povo negro e sua resistência sofreu
tentativas sucessivas de serem apagadas das páginas da história oficial das
elites. Observamos resistências até hoje de muitos brasileiros se identificarem
como afro-descendentes, independente da cor da pele.
O negro conservou seus traços de identidade
que permanecem até a atualidade e atravessaram os séculos, além de lutarem
bravamente para saírem da condição de escravos.
A forma mais conhecida dessa
resistência eram os quilombos que representavam a consolidação material da
resistência dos negros à escravidão. Eram aldeias ou comunidades onde moravam
muitos negros foragidos e serviam de reduto para receberem mais escravos que
fugiam das fazendas a partir dos ataques que os quilombolas realizavam para
libertar seus irmãos de cor.
No Brasil, existiram quilombos em
todas as regiões. O mais conhecido foi Palmares que abrangeu parte de diversos
estados do Nordeste, durou mais de 100 anos e teve mais de 20 mil habitantes,
por isso não foi fácil vencê-lo, levando a elite escravocrata até a negociar
com seus líderes, (o pacto de paz com Ganga-Zumba, rei de Palmares) o qual
Zumbi seu líder Máximo foi contrário.
Todos nós, de alguma forma já
ouvimos falar de Zumbi, embora sua memória por muito tempo esteve ocultada,
mas, muitos personagens negros precisam ser lembrados como sua esposa guerreira
Dandara.
Dandara além de esposa de Zumbi dos
Palmares com quem teve três filhos foi uma das lideranças femininas negras que
lutou contra o sistema escravocrata do século XVII. Não há registros do local
do seu nascimento, tampouco da sua ascendência africana. Relatos nos levam a
crer que nasceu no Brasil e estabeleceu-se no Quilombo dos Palmares ainda
menina. Não era muito apta só aos serviços domésticos da comunidade, plantava
como todos, trabalhava na produção da farinha de mandioca, aprendeu a caçar,
mas, também aprendeu a lutar capoeira, empunhar armas e quando adulta liderar
as falanges femininas do exército negro palmarino. Dandara foi uma das provas
reais da inverdade do conceito de que a mulher é um sexo frágil. Quando os
primeiros negros se rebelaram contra a escravidão no Brasil e formaram o
Quilombo de Palmares, na Serra da Barriga, em Alagoas, Dandara estava com
Ganga-Zumba. Participou de todos os ataques e defesas da resistência palmarina.
Na condição de líder, Dandara chegou a questionar os termos do tratado de paz
assinado por Ganga-Zumba e pelo governo português. Posicionando-se contra o
tratado, opôs-se a Ganga-Zumba, ao lado de Zumbi.
Sempre perseguindo o ideal de
liberdade, Dandara não tinha limites quando estavam em jogo a segurança de
Palmares e a eliminação do inimigo. Chegando perto da cidade do Recife, depois
de vencer varias batalhas, Dandara pediu a Zumbi que tomasse a cidade, isso é
uma prova da valentia e mesmo um certo radicalismo dessa mulher. Sua posição
era compartilhada por outras lideranças palmarinas. Para Dandara, a Paz em
troca de terras no Vale do Cacau que era a proposta do governo português, ela
preferiu a guerra constante, pois via nesse acordo a destruição da República de
Palmares e a volta à escravidão. Dandara foi morta, com outros quilombolas, em
06 de fevereiro de 1694, após a destruição da Cerca Real dos Macacos, que fazia
parte do Quilombo de Palmares.
Não sabemos como era seu rosto, nem
como era exatamente, podemos compará-la a duas deusas do panteão africano, uma
Obá ou Iansã, uma leoa defensora da liberdade.
Sua imagem vive e pode ser vista em
cada pessoa que se identifica com suas origens, luta por liberdade, acredita em
seus sonhos e “faz da insegurança sua força e do medo de morrer seu alimento,
por isso me parece imagem justa para quem vive e canta no mal tempo”
Escrito
por: Kleber Henrique. Professor de História.
Fonte:
http://www.geledes.org.br/dandara-a-face-feminina-de-palmares/#gs.Zo89D_o
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