quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Dia da Consciência Negra 2 - Dandara


Dandara: a face feminina dos Palmares
            Durante os quase quatro séculos de escravidão negra no Brasil, a luta do povo negro e sua resistência sofreu tentativas sucessivas de serem apagadas das páginas da história oficial das elites. Observamos resistências até hoje de muitos brasileiros se identificarem como afro-descendentes, independente da cor da pele.
            O negro conservou seus traços de identidade que permanecem até a atualidade e atravessaram os séculos, além de lutarem bravamente para saírem da condição de escravos.
            A forma mais conhecida dessa resistência eram os quilombos que representavam a consolidação material da resistência dos negros à escravidão. Eram aldeias ou comunidades onde moravam muitos negros foragidos e serviam de reduto para receberem mais escravos que fugiam das fazendas a partir dos ataques que os quilombolas realizavam para libertar seus irmãos de cor.
            No Brasil, existiram quilombos em todas as regiões. O mais conhecido foi Palmares que abrangeu parte de diversos estados do Nordeste, durou mais de 100 anos e teve mais de 20 mil habitantes, por isso não foi fácil vencê-lo, levando a elite escravocrata até a negociar com seus líderes, (o pacto de paz com Ganga-Zumba, rei de Palmares) o qual Zumbi seu líder Máximo foi contrário.
            Todos nós, de alguma forma já ouvimos falar de Zumbi, embora sua memória por muito tempo esteve ocultada, mas, muitos personagens negros precisam ser lembrados como sua esposa guerreira Dandara.
            Dandara além de esposa de Zumbi dos Palmares com quem teve três filhos foi uma das lideranças femininas negras que lutou contra o sistema escravocrata do século XVII. Não há registros do local do seu nascimento, tampouco da sua ascendência africana. Relatos nos levam a crer que nasceu no Brasil e estabeleceu-se no Quilombo dos Palmares ainda menina. Não era muito apta só aos serviços domésticos da comunidade, plantava como todos, trabalhava na produção da farinha de mandioca, aprendeu a caçar, mas, também aprendeu a lutar capoeira, empunhar armas e quando adulta liderar as falanges femininas do exército negro palmarino. Dandara foi uma das provas reais da inverdade do conceito de que a mulher é um sexo frágil. Quando os primeiros negros se rebelaram contra a escravidão no Brasil e formaram o Quilombo de Palmares, na Serra da Barriga, em Alagoas, Dandara estava com Ganga-Zumba. Participou de todos os ataques e defesas da resistência palmarina. Na condição de líder, Dandara chegou a questionar os termos do tratado de paz assinado por Ganga-Zumba e pelo governo português. Posicionando-se contra o tratado, opôs-se a Ganga-Zumba, ao lado de Zumbi.
            Sempre perseguindo o ideal de liberdade, Dandara não tinha limites quando estavam em jogo a segurança de Palmares e a eliminação do inimigo. Chegando perto da cidade do Recife, depois de vencer varias batalhas, Dandara pediu a Zumbi que tomasse a cidade, isso é uma prova da valentia e mesmo um certo radicalismo dessa mulher. Sua posição era compartilhada por outras lideranças palmarinas. Para Dandara, a Paz em troca de terras no Vale do Cacau que era a proposta do governo português, ela preferiu a guerra constante, pois via nesse acordo a destruição da República de Palmares e a volta à escravidão. Dandara foi morta, com outros quilombolas, em 06 de fevereiro de 1694, após a destruição da Cerca Real dos Macacos, que fazia parte do Quilombo de Palmares.
            Não sabemos como era seu rosto, nem como era exatamente, podemos compará-la a duas deusas do panteão africano, uma Obá ou Iansã, uma leoa defensora da liberdade.
            Sua imagem vive e pode ser vista em cada pessoa que se identifica com suas origens, luta por liberdade, acredita em seus sonhos e “faz da insegurança sua força e do medo de morrer seu alimento, por isso me parece imagem justa para quem vive e canta no mal tempo”


Escrito por: Kleber Henrique. Professor de História.
Fonte: http://www.geledes.org.br/dandara-a-face-feminina-de-palmares/#gs.Zo89D_o

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